sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Isso Não Tem Graça - Feiura é de Fábrica

Por Armando Moya

Desde que eu nasci que eu lido com a habilidade de ser feio. Sim, ser horroroso é uma característica técnica que tenho. Se não for isso, só me resta chamar a minha total falta de beleza de maldição. Mas eu não acredito em bruxarias, então...

Minha mãe me desmente. Ela diz que quando eu era pequeno as mulheres se perdiam pra mim. Conta ainda que as pessoas paravam meu carrinho de bebê para elogiar a cria. Talvez seja olho gordo da galera, mas algo tem que justificar como um neném de parar o trânsito virou essa pessoa que vos fala.

Hoje em dia, mamãe diz que a minha beleza é interior, que o que importa é o coração. No entanto, em todos os porta-retratos da minha casa, minha mãe só colocou fotos minhas com até cinco anos de idade. (Eu odeio gente que não fala a verdade na cara!)



Não é só a queda de cabelo, o sobrepeso do sobrepeso, a pele cheia de espinha, os dentes tortos ou os pelos que começam na testa e terminam no calcanhar (passando por todos os poros do meu corpo – TODOS!). Além – ou apesar - desse conjunto todo, eu sou feio.



Como eu fiz essa descoberta magnífica? Aparando minhas madeixas no barbeiro mais barato do belíssimo bairro de Botafogo.

Primeiro, ele comentou sobre o meu cabelo ser oleoso. Em seguida, falou da barba que estava muito mal aparada. Veio uma crítica aos meus óculos. Por fim...

- Suas orelhas são tortas. – me informou o nobre cabeleireiro

- Como assim?

- Senhor, veja só a diferença de altura de cada uma.

O barbeiro de Botafogo mostrou que minhas orelhas não ficam na mesma altura. Uma é ligeiramente mais baixa que a outra. Eu tentei argumentar, mas ele não perdoou:

- Isso é defeito de “naiscença”. Vou fazer o seguinte, vou aparar sua costeleta como se as suas orelhas fossem da mesma altura, você dê seu jeito e ande com a cabeça torta para parecer que as costeletas estão na mesma altura.

As costeletas ficaram lindas, mas, hoje, eu acordei com um torcicolo do caralho!



quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Zeitgasto - Perninha e Lilico

Por Maurício Mohr

A idade chegou, os calendários foram um após o outro sendo substituídos, dos primeiros que me lembro, eram uns enormes que ficavam na cozinha da casa dos meus pais por um motivo além do razoável tinha um cenário meio campestre e figura da família de coelhos antropomorfizados (viu, Gute_ minha professora de Literatura_ eu não dormia nas suas aulas à toa, o sono é que armazena as informações na memória).

Mas não era um desenho da Warner como uma representação humana mais divertida e animada, era na verdade uma coisa mais romântica com traços delicados. No justo intervalo entre o pintor flamengo Rubens e uma pintura de xícara feita por um flamenguista.


Lembrando disso, sinto muitas saudades de ir até a cozinha e perguntar pra minha mãe se tem algo para almoçar e a resposta ser uma medida de tempo. Não importava como fosse feita a pergunta, de forma educada, antipática ou varada de fome. Eu seria respondido em minutos ou horas. “15 minutos!”. “ManhêÊÊê, tem estrogonofe?” ;“2 horas.” Eu ficava sabendo quando viria, mas nunca o quê. Minha barriga testemunha que as refeições eram boas apesar de misteriosas.



Hoje eu vivo com a liberdade de morar sem papai nem mamãe e escolher meu cardápio, lembro que no meu primeiro mês sozinho, eu me servi batata-frita de café da manhã ao jantar, apesar de não enfartar ou ter me fartado porque devo confessar ainda como as minhas fritas com regularidade, mantenho sequelas deste comportamento, uma bela e adiposa capa de filé de cupim no abdome-barrigal .



Ah, mas quando visito a minha geladeira em casa só sinto a frieza no seu trato. Ela até se abre para mim, mas é puro vazio, sem carinho nem docinhos caramelados. Sequer um ovamaltino ou leitinho com pera.

É como dizia o sábio da Praça: “Tempo bom, Êêê, não volta mais. Saudades... de outros tempos de paz!”


quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Sobre Tomates e Uvas - Zeitgasto

Por Maurício Mohr

Acabo de voltar do Oriente Médio, volto medianamente desorientado... Meu cardápio do café da manhã ao jantar se resumia em pepinos, azeitonas, pimentões, tomates e grão de bico. Um suco de laranja para acompanhar ou uma garrafa de Coca-Cola.

Diferente das minhas últimas andanças pelo globo, voltei a ser criança por alguns dias, horários fechados sem discussão, caminhadas por destinos que eu não conhecia e talvez nem quisesse visitar. Ao menos, a alegria não tinha hora para começar, não precisei olhar no relógio e esperar até a hora marcada para me divertir.

Ficamos dez dias sob o olhar atento de uma romena recém-imigrada que era a segurança da minha excursão e também enfermeira treinada. Todas as vidas que ela podia salvar, poderia ainda mais facilmente tirar. Tinha uma corpanzil europeu, um rosto meigo e olhos claros como o céu, uma gota de Danúbio no deserto.

As cores e sabores se misturavam. O verde das oliveiras no mesmo tom das fardas de belíssimas soldadas, os tanques beges da cor do homus pedindo por um pão pita, as pedras iguais e marrons que fazem a Cidade de Davi reluzir como ouro e a simbologia do deserto dividindo e aproximando os peregrinos deste mundo.

Fiquei por lá pouco, mas mesmo pequeno, bobo e sem entender, só me resta pensar: se todos querem que a receita melhore porque os ingredientes não mudam?