segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Vida Mansa

Por Jeyce Valente

Sempre fui aquela estranha no ninho. Sempre me senti meio esquisita, por vezes meio punk, as vezes nos anos setenta e ultimamente européia e vintage. Porém, dentre tantos sentimentos distantes de mim, que nada tinham a ver com minha verdadeira natureza, me deparo com o mais inesperado dos sentimentos: um patriotismo tolo e romântico. Ando completamente apaixonada pela minha cidade! Creio que a ultima vez que senti isso foi quando vivi em Manaus por cinco anos, naquela época minha paixão pelo rio se assemelhava as outras, era distante, nostálgica e vislumbrada, mas agora, só agora, aos vinte e quatro anos, neste comecinho de 2012 que percebo: PUTA QUE PARIU QUE CIDADE FODA PRA CARALHO!

Percebi ali, em São Cristóvão, no meio de um reggae do Maranhão, mastigando uma tapioca com manteiga de garrafa, com a minha Antártica latão na mão, observando um romeno louco dançando abraçado na aparelhagem, com um dj que cantava junto com a música e uma tv que passava o caso Eloá atras dele.

Percebi num súbito, foi assim, simples, uma paixão avassaladora pela minha cidade. Falo com orgulho!

Mesmo não sucumbindo as paixões cariocas mais obvias e diurnas, ainda sou uma carioca exemplar; ando pela lapa com propriedade, faço xixi entre dois carros estacionados com muita classe, sei sambar, sei rebolar até o chão e chamo os garçons do Bar da Cachaça pelo nome. E sim, o rio também é feito de roquenrou (porem de chinelo)! Que o diga a dominatrix que dia desses me prendeu numa roda da morte no meio de uma festa fetichista e chicoteou minha nádega enquanto um carrasco me girava e expunha meus glúteos para a platéia.

Sou, sou sim carioca. E como essa vida aqui no rio, em meio a isopores de cerveja gelada, milhares de rostos familiares por onde quer que eu passe, esse cheiro de maconha, esse jazz de quarta-feira, essa vista do arpoador, esses corpos durinhos e bronzeados, esse "me arruma um cigarro aí?" esses labradores saudáveis, esses copos americanos do mosca que vieram parar aqui em casa, o Jorge que traz cerveja em garrafa em casa somente com uma ligação e essa pizzaria da esquina que nunca fecha e na qual eu devo uns setenta chopps de dias diferentes, é mansa… mansinha mansinha…

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